Ano Novo, Vida Nova – trabalho novo, carreira nova

Nunca essa frase feita fez tanto sentido em minha vida, afinal, o ano de 2015 encerra uma série de ciclos importantes. Neste post me aterei à minha vida profissional, embora as grandes mudanças que estão acontecendo envolvam outras esferas importantes de minha vida.

No último dia 10 (10/12/2015), não apenas terminei minha relativamente curta carreira no Colégio Visconde de Porto Seguro (digo relativamente, primeiro porque já passei mais tempo em outros trabalhos, como na Secretaria de Educação de São Bernardo do Campo, por exemplo, onde fiquei por mais de oito anos, e segundo porque, perto de alguns colegas que passaram mais de quarenta anos no Porto, minha passagem por lá, de quatro anos e meio, até que foi rápida), mas também encerro minha carreira nas séries iniciais da Educação Básica, com ênfase no trabalho como especialista em uso da tecnologia na educação. Não que eu vá deixar de lado a tecnologia, até porque nem seria mais possível, mas o meu foco não mais estará na reflexão sobre teorias sobre o uso pedagógico das tecnologias digitais na Educação Básica, uma vez que irei expandir essas reflexões acerca da educação como um todo, em suas diversas dimensões.

A partir do próximo ano iniciarei uma nova carreira no ensino superior. Desde o último dia 11 (11/12/2015) sou funcionária pública federal, docente no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, no Campus Capivari. Lecionarei, inicialmente, no curso de Licenciatura em Química. No próximo semestre serei responsável pelas disciplinas de Psicologia da Educação, para a turma que iniciará o terceiro semestre do curso, e História da Educação, para a turma do primeiro semestre. No caso desta última turma, iniciaremos juntos no ensino superior. Eles como alunos, e eu como professora.

Trabalho com formação de professores há muitos anos, mas sempre na formação continuada, não na inicial. Desde quando me formei no curso de Pedagogia sonhava em trabalhar com formação inicial de professores no então curso de Magistério. O problema foi que o Magistério foi extinto justamente quando eu cursava Pedagogia, e, embora eu tenha até chegado a fazer estágio de regência lá, nunca pude trabalhar efetivamente nessa área. Quando concluí meu Mestrado, em 2012, quinze anos depois, o desejo de ir para essa área ganhou força novamente, e eu esperei até que chegasse o momento certo de mudar.

Eu sempre soube que o trabalho que eu desenvolvia na formação de professores para o uso de tecnologias digitais se tornaria, um dia, obsoleto. Quando iniciei, considero que os professores não eram nem imigrantes digitais. Eu diria que eles eram estrangeiros digitais, pois a maioria não tinha sequer contato com a tecnologia digital em sua vida pessoal. Quando era necessário utilizar computadores, eles recorriam a seus filhos ou outras pessoas que pudessem ajuda-los no manuseio daqueles equipamentos. Não raras vezes tive de ensinar professores até mesmo a ligar o computador, pois eles nunca tinham feito isso. Mas eu sabia que esse fenômeno não duraria muito tempo. Era um período de transição, pois os nativos digitais já estavam no mundo, e em breve eles cresceriam e ocupariam um lugar à frente das salas de aula.

Quando eles começaram a chegar à docência, meu trabalho deixou de ser ajuda-los a se apropriar das tecnologias como um todo, e se concentrou na apropriação do uso pedagógico das tecnologias, pois, embora eles já utilizassem tecnologias digitais em sua vida pessoal, em sua experiência como alunos nunca tinham usado computadores na escola, e eles não conseguiam enxergar as possíveis contribuições do uso das tecnologias para a aprendizagem na escola. Entretanto, o tempo passou, e muitos desses alunos que estavam na escola ao longo dos últimos 15 anos, experimentando o uso das tecnologias já como alunos, chegaram à posição de professores. Portanto eles já possuem um repertório digital pedagógico, que dispensa o trabalho de um profissional da minha área no dia-a-dia.

Não quero dizer com isso que essa fase já esteja superada. Ainda há muitos professores imigrantes digitais que precisam de parceiros mais experientes nessa área, mas aos poucos os próprios professores nativos digitais poderão ser esses parceiros, e dentro de alguns anos, acredito, o profissional de tecnologia educacional como hoje o conhecemos, se tornará absolutamente dispensável.

Muitos desses profissionais têm se reinventado, e têm se dedicado a uma formação mais técnica, para atuar em uma frente que, conforme eu discuti no artigo Novos Rumos na Área de Tecnologia na Educação, está ganhando força. Trata-se do trabalho com robótica educacional, linguagem de programação, produção de games, além de outras experiências relacionadas à chamada “Cultura Maker”. Esses profissionais que usam a tecnologia não apenas como ferramenta de aprendizagem, a serviço do currículo, mas como um componente curricular, ou como conteúdo propriamente dito, estão se tornando cada vez mais necessários, e é muito louvável o trabalho que eles vêm desenvolvendo. Acontece que eu nunca me vi como uma profissional da área de tecnologia. Sempre me vi como profissional da área de educação, que usa a tecnologia para favorecer o processo de aprendizagem. Por isso sempre me vi como uma pessoa que foi cooptada pela área de tecnologia, e quem me conhece de perto certamente já me ouviu falar sobre isso.

Agora, finalmente, estou voltando para a área da qual nunca saí. Com um grande desafio: formar professores para um sistema de ensino que caminha a passos largos para a falência. Pretendo, junto com meus alunos, descobrir maneiras de reverter esse processo, ou criar maneiras de transformá-lo radicalmente. Certamente trata-se de um grande desafio, que me dará muito trabalho, que exigirá muito tempo de pesquisa, mas sinto que não poderia ser em momento melhor, e em uma instituição mais apropriada.

Que venha 2016!

Em Salto, 31 de Dezembro de 2015.

3 comentários sobre “Ano Novo, Vida Nova – trabalho novo, carreira nova

    • Não é uma ironia do destino que eu trabalhe para a Dilma e você para o Alckmin? Hahaha… Bom ano para nós, JC! 😉

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