Enquanto estava elaborando o “Plano de Ensino” de uma das disciplinas que ministrarei a partir do início do ano letivo de 2016, no IFSP – Campus Capivari (a saber, História da Educação e Psicologia da Educação), fui provocada pelo meu marido e mentor Eduardo Chaves, e estou pensando nisso até agora…
Não me considero uma professora tradicional. Pelo contrário. No espectro educacional me vejo muito mais próxima do extremo da inovação do que do extremo da tradição. Não sou o tipo de professora que se sente confortável em cima do palco da sala de aula falando enquanto os meus alunos ouvem. Entendo que a aprendizagem é muito mais importante do que o ensino, e por isso, meus alunos precisam ser protagonistas em sala de aula. Não vejo meus alunos como uma tabula rasa, e nem tampouco como pessoas que nasceram prontas, mas entendo que a partir da interação (diálogo) com o mundo, e com as outras pessoas, eles aprendem. Aprendizagem ativa, para mim, é (quase) um pleonasmo vicioso, pois não seria aprendizagem se não fosse ativa.
Educação, para mim, é muito mais do que um processo de transmissão de conhecimentos (nem acredito que seja possível transmitir conhecimentos… quando muito, informações, que eventual e oportunamente podem ser transformadas em conhecimentos pelos alunos, de forma ativa). Nem acho que o papel da escola se restrinja a transmitir o legado cultural produzido pelas gerações passadas às gerações mais novas.
Educação, para mim, é um processo de desenvolvimento humano, que se inicia no nascimento e só termina quando a vida acaba. Educação, portanto, é um processo que acontece ao longo de toda a vida, como afirma a UNESCO, e não apenas na escola.
Aprendizagem, por sua vez, em minha concepção, não é o processo de assimilação de conteúdos ensinados pelos professores, mas sim um processo de desenvolvimento de competências, que envolve conhecimentos (inclusive os produzidos pelas gerações passadas), habilidades, valores, atitudes, etc.
Essa visão de educação e de aprendizagem, a meu ver, é suficiente para me caracterizar como uma professora não tradicional.
Trabalho com colegas que também se consideram inovadores, que proporcionam aos seus alunos experiências de aprendizagem muito significativas, baseadas em projetos, e focadas na resolução de problemas, etc.
Pois bem… Apesar de tudo isso, eu, e todos esses meus colegas, estamos fazendo um “Plano de Ensino”, em vez de um “Plano de Facilitação da Aprendizagem”, por exemplo. A despeito dessa concepção pedagógica, os recursos que listamos para utilizar com os alunos estão classificados como “Recursos Didáticos”, em vez de “Recursos Matéticos”.
Sim, matéticos. Conforme explica o Eduardo em um post de 2006 (10 anos atrás!), se a didática se refere à arte de ensinar, a matética se refere à arte de aprender. Se o foco do nosso trabalho em sala de aula está na aprendizagem, já passou do tempo de repensarmos alguns termos que estão tão arraigados em nosso vocabulário, que nem pensamos mais sobre o significado deles.
Como disse o Eduardo, acho que somente o Papert e ele costumam utilizar esse termo. Nem o Google acredita quando a gente faz uma busca por essa palavra. Ele logo sugere a palavra Matemática no lugar…
Por que ninguém fala em Matética nas escolas? Será que é porque ainda é o professor, com seu ensino, que está no centro do processo?
Em Salto, 14 de Janeiro de 2016.
Amei a reportagem. Ótima mensagem pra início de Ano Letivo.
Que bom que você gostou, Solange! Obrigada! 😉
Muito bom o texto. Sou graduado em Educação física e fisioterapia, além de ter várias especializações e uma participação em um Mestrado stricto senso na Austrália. Estou sempre procurando me aperfeiçoar para alcançar o nível de excelência necessário para poder exercer o meu trabalho com a maior competência possível, porém, venho ao longo dos anos percebendo o despreparo dos profissionais ditos ” professores” no que tange aos conhecimento dos aspectos: educação, processo ensino-aprendizagem, pedagogia, didática e etc. Em contrapartida, vejo profissionais ” educadores” preocupados em obter títulos, prestigio, se promoverem. Acumulam tantas tarefas diarias que acabam tendo dificuldade de dar conta do que foi proposto, e o pior é que nao se montram preocupados se o objetivo, a aprendizagem, foi atingido. Estão satisfeitos, o conteudo foi passado dentro do prazo previsto, as provas aplicadas e os trabalhos entregues. Enfim, não sou professor de sala de aula e sim um fisioterapeuta clinico, mais acredito muito na importância da boa educação para o desenvolvimento do ser humano e na construção de um mundo melhor e mais justo. Escrevi isto, porquê gostei muito do texto da professora Paloma, o qual a riqueza de suas palavras, me faz acreditar de se tratar de uma educadora de primeira linha e é isto que o nosso País está precisando para ser grande.
Obrigado.
Mário Sérgio Cardoso
Obrigada por suas palavras gentis, Mario Sergio! 😉
Parabéns professora. Esse é o caminho do verdadeiro conhecimento e da estimulação da inteligência que falta aos “professores” atuais e, consequentemente aos aprendizes. Filosoficamente e absolutamente corretas suas posições. Esse é o Brasil inteligente e superior que queremos.