Há dois dias publiquei um pequeno relato sobre o novo momento que estou vivendo em minha vida profissional.
O relato que publico hoje pode parecer meio redundante, mas foi escrito num outro contexto, e por isso traz muitas informações que eu já havia compartilhado neste Blog.
Trata-se de um Relatório Reflexivo sobre o HTPC (Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo) da nova escola em que estou trabalhando. A diretora, minha querida amiga Roseh, me desafiou a escrevê-lo logo em meu primeiro dia de trabalho. Aceitei o desafio… Compartilho-o com vocês a seguir…
No último dia 6 de Abril dei meus primeiros passos numa nova etapa em minha vida. Após sete anos, retornei à sala de aula, e estou realmente entusiasmada e sentindo-me privilegiada pela oportunidade de ter essa experiência de novo.
Durante o período em que estive fora da sala de aula, tive o privilégio de trabalhar com o uso pedagógico da tecnologia e com o universo fascinante da educação democrática e inovadora, em que pude aprender muito, mas muito mesmo!
Em minha vida pessoal, também passei por experiências profundas, às quais ainda estou tentando me adaptar. Não sei quantas pessoas que estão lendo (ou ouvindo) esse relatório já passaram por um processo de separação… O ponto mais frágil dessa experiência são minhas filhas, Bianca e Priscilla, de 12 e 10 anos. Elas eram e continuam sendo motivo de grande preocupação no último dia 6, inclusive durante o HTPC. Afinal de contas, era a primeira reunião noturna da qual eu participaria, deixando-as sozinhas em casa. Por causa delas eu ainda estou encontrando dificuldade para me organizar em minha nova rotina. Mas, felizmente, havia um feriado logo em minha primeira semana, e ele me ajudou nesse trabalho de auto-organização, e organização da minha rotina com elas.
Bem, mas o objetivo deste relatório reflexivo é falar sobre o HTPC, com o qual fui presenteada logo no primeiro dia de meu retorno. Considero que foi um presente especialmente porque houve a participação da Elma, e ela falou essencialmente de questões que muito me preocupam. Naturalmente não me refiro aos avisos sobre cotas ou procedimentos para solicitação de cópias, mas sim à questão da qualidade das atividades, de cujas solicitações de cópias chegam até as mãos da EOT. Sei que é difícil a tarefa de analisar atividades ou projetos propostos pelos professores, especialmente se há pouca interação entre quem faz a análise e os autores delas, os professores, durante a produção dessas atividades.
Eu digo que essas questões me preocupam porque eu nunca trabalhei diretamente com alfabetização antes, e sempre tive o maior respeito pelos profissionais que se dedicam a essa tarefa. Além de ser um desafio conduzir as crianças nesse processo de desenvolvimento de competências tão importantes para o seu desenvolvimento, dada a característica letrada da sociedade em que vivemos, há uma pressão muito grande de todos os lados, para que esse processo ocorra o mais rápido possível.
Diante de minha inexperiência, as contribuições da Elma, bem como da equipe que manteve o diálogo com ela, foram muito significativas para mim.
As questões que ela levantou, por exemplo, quando perguntou por que devemos utilizar caça-palavras com os alunos, me despertaram para a necessidade de refletir sistematicamente sobre cada atividade, cada atitude. Isso porque oferecer caça-palavras é algo tão comum, que eu nunca havia parado para pensar sobre a contribuição dessa atividade para os alunos.
Normalmente temos a tendência de reproduzir modelos. Em geral modelos que consideramos bem sucedidos. Mas nem sempre temos modelos bem sucedidos para seguir, e às vezes, mesmo as experiências bem sucedidas de uma pessoa não são garantia de sucesso em outra realidade, com outras pessoas, em outro momento.
Isso me lembra uma história que circula na Internet, algumas vezes atribuída ao Rubem Alves, que fala sobre como nascem os paradigmas. (http://tatudointerligado.blogspot.com/2007/03/como-nasce-um-paradigma.html). A lição dos macacos é de grande importância para qualquer profissional, mas especialmente para nós, professores, que temos em nossas mãos a responsabilidade e o privilégio de influenciar um grande número de pessoas (nossos alunos) com as nossas atitudes, por meio daquilo que chamamos de “currículo oculto”. Que tipo de seres humanos nós desejamos ajudar a formar? Aqueles que reproduzem as coisas, porque “sempre foi assim”, ou aqueles que percebem que podem pensar criticamente sobre as escolhas que fazem, buscando fazê-las de um modo diferente, inovador?
O interessante é que a Elma não trouxe simplesmente uma resposta pronta, do tipo: “Essa atividade é inadequada, e por isso não deve ser oferecida”. O que ela fez com o grupo foi um exercício de reflexão sobre o que buscamos com as atividades que preparamos. Ela chamou a atenção para aspectos positivos e negativos dessa atividade. Ela nos levou a refletir sobre a nossa intenção. E por trás dessa pergunta encontramos outra, ainda mais importante: Qual a nossa concepção de Educação, de Aprendizagem, de Currículo, de Metodologia, de Avaliação?
Para ajudar-nos a pensar sobre isso, indico o Blog não oficial da escola Lumiar, onde há uma série de artigos interessantes, que dizem respeito à Educação como um todo, e não somente às Escolas Lumiar: http://escolalumiar.spaces.live.com/
Quem considera a Educação o processo pelo qual as gerações mais novas recebem a herança cultural produzida pelas gerações anteriores, provavelmente entenderá que Aprendizagem é o processo de assimilação dessa herança cultural, e, portanto, que o Currículo deve estar focado nos conteúdos produzidos pelas gerações anteriores, e que a Metodologia mais apropriada para isso será o ensino, por meio do qual as informações são transmitidas. Nesse processo o instrumento de Avaliação mais adequado é a prova, que afere quanto do conteúdo foi assimilado pelos alunos.
Entretanto há aqueles que acreditam que a Educação é o processo pelo qual o ser humano se desenvolve e adquire autonomia para viver. A partir dessa concepção, Aprendizagem é um processo de desenvolvimento de habilidades e competências. Portanto, o Currículo consiste das competências consideradas importantes para os alunos desenvolverem. E qual é a Metodologia mais adequada para o desenvolvimento de competências? O ensino de conteúdos? Certamente não. A Metodologia mais adequada deve ser aquela que leva os alunos a “aprender a fazer” coisas, e não simplesmente “aprender” coisas.
Nesse sentido, a Metodologia de projetos de aprendizagem baseados na resolução de problemas, pode ser muito interessante, pois contribui significativamente para o desenvolvimento de competências pelos alunos. Pensando nessa Metodologia, certamente a prova não é o melhor instrumento a ser usado na Avaliação. A observação, interação e registro sistemático das informações obtidas são instrumentos muito mais eficientes para auxiliar nesse processo.
Interessante… Uma breve conversa sobre atividades de alfabetização / letramento às vezes pode nos levar a reflexões profundas.
É verdade que muitas dessas questões já nos intrigam há algum tempo, mas para mim, nesse novo momento que estou vivendo, pensar nelas estando dentro da sala de aula tem um significado completamente diferente.
No final de semana que precedeu o início do meu trabalho na escola, tive a oportunidade de analisar os instrumentos da Provinha Brasil, aplicados nos meus alunos. Minha busca por informações relevantes naquele material me proporcionou uma experiência muito prazerosa de descoberta, de aprendizagem, de desenvolvimento de competências.
Tenho tido o privilégio de enveredar por esse caminho fascinante da descoberta de coisas, que para alguns é tão simples, tão banal. Talvez a beleza dessas descobertas esteja justamente na simplicidade delas. A cada conversa trocada com meus novos colegas de trabalho, seja no próprio HTPC, seja nas conversas rápidas de pátio ou de corredor, eu tenho me deliciado.
Espero que essa sede não passe. Espero que esse prazer não acabe. Espero que esse comportamento, quase infantil, da curiosidade, do desejo de aprender, não se apague. Do mesmo modo, espero manter-me sensível aos meus alunos quanto à sede e ao prazer deles em descobrir o mundo, contribuindo para que também eles não passem, não acabem.
Em São Paulo, 12 de Abril de 2009.
Paloma!
Preciso fazer um relatorio reflexivo sobre inclusão de alunos com deficiencia na escola tradicional.Faço pedagogia e este trabalho vale 15 pts, o pior é a professora não explicou o meio de fazer então preciso me virar sozinha.
Vôcê pode me ajudar? Preciso de um esboço mais especificado,pois este esta muito tecnico(esta muito bom),preciso dos passos.obrigado